Educação não é feita por gente sentada em cima duma mesa, subindo descendo falando em palco e indo em palestra. Educação é feita por gente que fez, todo dia, sem você ter a mínima ideia do nome. Tem Instagram? Tem Youtube? Perdão, não sei muito bem se tua licenciatura com especialização em repetir “viva Paulo Freire” é suficiente para teu auto intitulamento de professor. Segundo a colonialidade definidora de sabedorias universais (e universitárias) professor é: “Aquele que tem diploma de professor. Com título de professor em alguma área de conhecimento. Aquele que leciona em algum estabelecimento de ensino; docente, mestre, prô.”1.

Mas, segundo minha própria existência (que inclusive, é o que une todas as pessoas que estão aqui neste número da Trajeto Errático) um professor é alguém, um ser. Que vive, respira, sente e principalmente: conta. Conta, compartilha, distribui, dá acesso à, dire, give access to, distribuye, compartir, repártir, partage e mboja’o2. O professor pode ser griô também, porque educação é guia de mente e de corpo – não é sequela de capitalismo preso em BNCC ou no fim dela.

Educação não é eleitoreira, é pra ser anarquista. E se se faz anarquista, ela chuta a boca de qualquer um que ainda dá dinheiro para meia dúzia de zona sul que samba na mesma escola que a nossa. Por sambar, não digo “Frequentar locais onde se dança samba”3, digo: “chegar no lugar que se chama nosso e fala ‘meu’”. Se tem dois que pensam diferente tem que sentar os dois na mesma sala e falar ‘dá um abraço e explica aí as tuas ideias, maneiraço não vou te julgar não” e pronto, mais cidadania que toda a nossa dita democracia.

Aqui, vamos mostrar que direito ao acesso é algo que todas queremos, aqui temos as que veem na universidade um espaço de entraves e possibilidades, as que nos dizem para largar tudo porque cinema será algo que já é (e que também será mais) e as que fazem onde quer que estejam, sendo a potência prática na sala de aula.

Se algum dia tu olhar pruma criança e essa criança mandar um “ei, ei, larga essa coisa ai de reinvenção – a gente quer é acabar com as máquinas agrícolas e criar as próprias ferramentas com madeira, pedra e meia dúzia de corda” quer dizer que o desejo comunicado por essa revista se fez valer na ideia de educação que é necessária para a tal dita democracia. Democracia sendo simplesmente pessoas diferentes convivendo ao lado uma da outra comendo planta e dizendo ‘eita, será se vai chover?’.

Antes de adentrar o profundo universo das experiências, é importante ponderar que aquela criança está notando que a reinvenção está relacionada à política de consumo. Uma política em que a própria reinvenção vai te dizer que algo é novo, mas não é — ele só é reembalado. E a reembalagem a gente joga fora, a gente recicla. Reciclagem, o princípio da construção de uma educação: olhar para o espaço e repensar ele, dar um outro significado (em outro sentido) para aquela coisa que não parece importante, que já foi consumida e portanto não tem mais valor.

  1. MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998-(Dicionários Michaelis). 2259p. ↩︎
  2. Mboja’o: Compartilhar, dividir. Tupi-Guarani Dicionário Tupi-Guarani / Português. Desenvolvido por:
    Jhulana Yatra (Ybotira), estudante de Tupi-Guarani (dialeto Mbiá). ↩︎
  3. MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos,
    1998-(Dicionários Michaelis). 2259p. ↩︎

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