Uma nova abordagem com alunos de escola pública

1. Introdução

A experiência deste trabalho de ensino/aprendizagem visa estimular o uso das videoaulas como suporte bastante útil nas práticas escolares em escolas públicas, num processo de desenvolvimento de ferramentas que facilitem a aprendizagem, e que ocorra de forma prazerosa e motivadora. Levando em consideração que esse aluno é um ser individual e que o seu aprendizado está ligado a várias questões sociais e cognitivas, além de que o professor deve ter uma ação para facilitar esse aprendizado, segundo Cosenza e Guerra (2011, p. 38), “professores podem facilitar o processo, mas, em última análise, a aprendizagem é um fenômeno individual e privado e vai obedecer às circunstâncias históricas de cada um de nós”. Assim confirma os autores que mesmo o professor facilitando a transmissão da aprendizagem, envolvendo atividades que estimulem os alunos, ela só ocorrerá se o aluno estiver preparado para que ela aconteça e tenha condições para efetivar esse aprendizado. 

As videoaulas são ótimos exercícios para se exercitar a aprendizagem, atividade que o aluno que utiliza as mídias digitais tem grande apreço, por ser algo que faz parte do seu contexto digital e sua vida fora da escola. Mas é importante salientar que os vídeos trabalham o coletivo, as vivências, as linguagens, assim como o autor Lévy (2010) aborda em suas Inteligências coletivas. O grupo de alunos têm uma tarefa em comum, formam linguagens e espaços diferenciados de saberes, onde o pensamento no coletivo muda situações antes diferenciadas, estabilizadas. Uma tarefa se torna muito mais interessante quando realizamos com prazer junto aos nossos semelhantes.

2. As videoaulas como processo de “iluminação” para acontecer o ensino/aprendizagem

Conforme Kenski (2012, p. 85), “desde que as tecnologias de comunicação e informação começaram a se expandir pela sociedade, aconteceram muitas mudanças nas maneiras de ensinar e de aprender”. Diante dessa reflexão da autora, a interação entre tecnologia e educação se processa diariamente, desde seu começo, assim estabelecendo que as novas descobertas na educação e na aprendizagem tem um novo rumo diante da dinâmica e do acesso dos usuários às TICs. Desta forma, estabelece um processo diferenciado no ato de ministrar aulas, trazendo uma “iluminação” aos educadores diante da Educação tecnológica que as mídias estabelecem.  

As videoaulas, por serem um processo que desenvolve o cognitivo e o sociocultural dentro dos ambientes virtuais, se sobressaem como algo que faz parte do cotidiano do aluno, que vivencia essas tecnologias dentro e fora da escola, e essa ação é uma forma de legitimar o ensino-aprendizagem.

Relacionando com Souza (2018, p. 16) “A videoaula é um recurso audiovisual que tem como objetivo produzir conhecimento e, para isso, se utiliza da ciência para fundamentar seus conteúdos.” Assim a sala de aula que se utiliza das videoaulas se “fundamentaliza” na potencialização das suas aprendizagens, já que visa o aprimoramento do aluno com o uso das mídias digitais, e nada como um recurso tecnológico, o vídeo como suporte, reforçando que diante da modernidade utilizar as TICs seria a união entre escola e tecnologia. 

Nossas pesquisas no Laboratório Acadêmico de Produção de Vídeo Estudantil – UFPEL, mostram que os vídeos estimulam a criatividade do aluno, despertam a curiosidade e a individualidade, adequando os espaços escolares num ambiente propício a vivenciar novas experiências, mostrando que a realidade da escola do quadro e do giz pode mudar, e ser um ambiente presencial, com nuances. Devido ao uso das videoaulas, as aulas tornam-se mais dinâmicas e mais prazerosas, já que a imagem dos vídeos estimulam outros aspectos mentais.  Segundo Pereira (2012), a produção de vídeo é considerada um espaço para o aluno expressar a sua cultura e a sua individualidade. Assim como o autor denomina Pedagogia da comunicação, onde estimula no aluno as linguagens e o uso das tecnologias, algo que faz parte do seu cotidiano.

As videoaulas têm como premissa iluminar as sala de aulas, auxiliando o professor em sua dinâmica, causando uma mudança de visão do aluno sobre a escola. Neste momento pós-pandêmico, temos que pensar que as TICs vieram com ênfase de transformar o que já estava deveras necessitando de reformas, a escola.

3. As videoaulas na turma de quarto ano, o começo…

As videoaulas foram muito usadas nesse momento pandêmico que vivemos, tanto no ensino remoto, híbrido ou presencial, devido a sua facilidade. Bastava ter internet e um celular, estava feito o vídeo, porque de criatividade, essa podemos dizer que os alunos tinham muita, como também os professores que se utilizam desse meio para chegar aos estudantes. 

Em nossa pesquisa, a utilização das videoaulas começou numa turma de 4º ano, na escola Municipal Doutor Joaquim Assumpção, na cidade de Pelotas-RS, onde alunos na modalidade remota fizeram vários vídeos mostrando o que entenderam sobre vários conteúdos que foram desenvolvidos durante a pandemia. No presencial fizemos um projeto piloto, nos organizamos no mês de novembro para fazer um vídeo através do aplicativo Stop Motion. Nesse momento começamos com um texto coletivo sobre o tipo de vídeo estudantil que faríamos, se seria de terror, suspense, informativo, entre outros. Decidimos pelo estilo suspense, envolvendo a escola como cenário, onde no momento de pandemia elas ficaram vazias, sem professores, alunos, movimento, som, cor; um cenário muito diferente, que jamais tínhamos visto. 

Dentro desse cenário desenvolvemos as fotos dos alunos como atores, contra regras, diretores, montadores de cenas, produtores. Algo que faz parte da rotina deles, a própria personificação do que acontece e existe. Com o mundo globalizado, podemos trabalhar o audiovisual em sala de aula, antes sem tantos recursos, mas hoje dispomos de um celular, um tripé, uma claquete e um corpo de alunos como atores, representando suas próprias vidas nas cenas. Dentro da cultura audiovisual, com o desenvolvimento da cultura da comunicação, o mundo globalizado se encontra em qualquer espaço, fora ou dentro da indústria cinematográfica, mostrando que o contexto social atual pode ser utilizado para comunicar o aprendizado diante de muitos conteúdos estudados.

Abaixo apresentaremos algumas cenas do projeto piloto, montado e filmado pelos alunos, mas editado com ajuda da professora. Fotos autorizadas pelos responsáveis dos alunos.

Figura 1 – Contrarregra

Fonte: arquivo da pesquisadora.

Figura 2 – Preparando a câmera

Fonte: arquivo da pesquisadora.

Figura 3 – Diretor de cenas 

Fonte: arquivo da pesquisadora.

Figura 4 – Momento de descontração após as fotos

Fonte: arquivo da pesquisadora.

Um trabalho feito no coletivo, de forma colaborativa, utilizando o vídeo como mediador do processo de aprendizagem, tornam as aulas mais dinâmicas, envolventes e por conseguinte uma qualidade feita na troca entre os pares. 

Como descreve D’Ambrósio (2003, p. 68), “o conhecimento é gerado individualmente, isto é, a cabeça é autônoma. Mas esse conhecimento só se realiza e sai do âmbito dos mentefatos exclusivos do seu gerador, quando é compartilhado com o outro.” 

Para Oechsler (2018, p. 52), “o vídeo pode ter diversas abordagens pedagógicas”. Assim a autora reforça que os vídeos podem ser utilizados em qualquer disciplina como um ótimo recurso audiovisual. Pereira e Janhke (2012) defendem que, quando o aluno produz vídeo, possibilita o aprendizado de diversas ações do currículo formal e não formal.

4. Considerações finais

As videoaulas colaboram e estimulam para um ensino-aprendizagem de qualidade com uso das tecnologias, as TICs, colaborando para que as mídias se estabeleçam em sala de aula de forma efetiva. Estimulando tanto o cognitivo quanto o emocional dos educandos, possibilita uma experiência baseada no uso dos vídeos e da cultura audiovisual. 

Esperamos que esse trabalho, em 2022, tenha a oportunidade de se engajar na modalidade presencial como uma atividade rotineira, principalmente na disciplina de matemática, onde faço minha pesquisa. As videoaulas precisam se tornar rotina nas matérias no espaço escolar, como um recurso visual que fortaleça a aprendizagem em todos os segmentos da escola. Assim como nas salas de recursos, nas bibliotecas e nas aulas de artes e educação física, porque os vídeos são excelentes meios de expressão, não só nas disciplinas bases, mas em todas as outras, trazendo cada vez mais a interdisciplinaridade para a escola.

5. Referências bibliográficas

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 44. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011. 

KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: O novo ritmo da informação. 8ª ed. – Campinas, SP: Papirus, 2012 – (coleção Papirus Educação).

LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução Carlos Irineu da Costa. 8ª reimpressão. São Paulo: Editora 34.

OECHSLER, Vanessa. Comunicação multimodal: produção de vídeos em aulas de Matemática. – Rio Claro, 2018 311 f.: il., figs. Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas Orientador: Marcelo de Carvalho Borba

PALFREY, John; GASSER, Urs. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração de Nativos digitais. Porto Alegre – RS: Editora Artmed, 2011.

PEREIRA, Josias; JANHKE, Giovana. A produção de vídeo nas escolas: educar com prazer. Pelotas: UFPEL, 2012. 

PEREIRA, J.; DAL PONT, Vânia. Como Fazer Vídeo Estudantil na Prática da Sala de Aula. Pelotas. Erdfilmes, 2018.

RAMOS, José Mario Ortiz; BUENO, Maria Lucia Bueno. Cultura audiovisual e arte contemporânea. ScieLO. 17 Jul 2002.SOUZA e Silva, Luiza Raquel. Um método para produção de videoaulas no contexto educacional. Luiza Raquel Souza e silva. 2018. 102 folhas. Orientador: Cristiano Maciel. Universidade do Mato Grosso. Instituto de Educação. Programa de pós graduação em Educação. Cuiabá 2018.

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