Um estudo de caso do Festival de Vídeo Estudantil de Pelotas
1. Introdução – Escola Municipal Independência
O festival de vídeo estudantil de Pelotas tem sua origem em 2011 quando uma professora de língua portuguesa, Giovanna Janhke, desejava que seus alunos não apenas decodificassem as letras do alfabeto, os significantes, mas que entendessem e principalmente usassem o que há de mais próximo da realidade deles, a mídia e a tecnologia. Segundo Freire (1987) o estudo da realidade do educando é importante para poder extrair da problematização do seu dia a dia elementos, metodologia para o ensino do educando.
A professora Giovanna, como Freire, acredita que a base do aprendizado é o diálogo e sentiu a necessidade de criar elementos para passar seu conteúdo aos alunos de outra forma.
[…] o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes. ( FREIRE, 1987)
Assim, em 2011 a professora procurou o curso de Cinema da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para ensinar seus alunos a realizarem vídeos. O professor Josias Pereira foi encarregado de contribuir com uma palestra sobre a “realização audiovisual”. Depois da aula na escola Municipal Independência, escola que fica no subúrbio da cidade de Pelotas, e vendo o interesse dos alunos de oitava série, o professor dialogou com a professora Giovana e informou da necessidade de criar um projeto de extensão que contribuísse com os vídeos que os alunos da escola queriam realizar. Assim foi criado em 2011 o projeto de extensão “produção de vídeo estudantil”, cadastrado na Pró-Reitoria de Extensão da UFPel. O projeto tinha como base realizar a orientação desde o roteiro até a edição final do material.
Fotos da Gravação e edição dos curtas
Figura 1 – Professor Josias, professor Luiz Claudio e aluno gravando uma cena do curta
Figura 3.
Figura 5 – Alunos gravando uma cena do curta.
Figura 2 – Professor Giovana com os alunos em debate sobre Roteiro.
Figura 4 – Professor Josias editando com os alunos
Figura 6 – Professor Giovana e Professor Josias Pereira na entrega de prêmios criado pela escola Municipal Independência.
Fontes: Vânia Dal Pont e Josias Pereira
O resultado foram quatro vídeos realizados pelos alunos. Em dezembro de 2011 a direção da escola fez a noite de exibição dos vídeos, convidando pais e comunidade do bairro para assistir o trabalho dos alunos. Importante relatar que o bairro fica na zona periférica de Pelotas e não há no seu entorno aparelhos culturais. No dia da exibição, mais de 200 pessoas foram à escola para assistir aos vídeos. Ao ver tamanha repercussão, a professora Giovana e o professor Josias se reuniram com a secretaria municipal de Educação para a criação do I Festival de Vídeo Estudantil de Pelotas. A ideia era ampliar a ajuda que a Universidade concedia à Escola Independência para outras escolas da região. Para isso, foi realizado um site na internet com o nome “Produção de Vídeo Estudantil” e uma página na internet com os estagiários do curso de Cinema onde base era indicações de software livre, vídeo aulas, aplicativos para celular e apostilas.
O site foi criado pois, segundo relato dos professores, o principal entrave para a realização do vídeo seria a falta de domínio da realização audiovisual; assim, criamos uma oficina para suprir a demanda de alunos e professores. Capacitação técnica é importante para os professores terem essa base de realização já que a academia nos cursos de licenciatura e pedagogia não apresentam disciplinas práticas de produção de vídeo estudantil.
2. A Importância da Secretaria de Educação nos Festivais de Vídeo Estudantil
Sabemos do preconceito que existe no Brasil de questões práticas e não intelectuais dentro do espaço escolar. Assim, precisamos dar base para que professores pudessem fazer vídeos com respaldo tanto da academia como do poder público. Por isso procuramos a secretaria de educação do município de Pelotas, já que com a anuência desta secretaria o professor poderia fazer vídeo com mais tranquilidade. Realizamos primeiro em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação uma divulgação em todas as escolas da região explicando como seria o festival que ficou dividido em 3 partes
| 1º | Oficinas de vídeo nas escolas. |
| 2º | Inscrição do vídeo no festival. |
| 3º | Exibição do vídeo nas escolas cadastradas. |
Na primeira parte realizamos oficinas em 10 escolas que se cadastraram. Em média foram realizadas 8 visitas em cada escola para completar a oficina e depois editar o material. Depois, os alunos das escolas públicas puderam cadastrar seus vídeos no festival.
3. Gravação dos curtas em algumas escolas de Pelotas
Figura 7
Figura 10
Figura 8
Figura 11
Figura 9
Figura 12
Tivemos 21 trabalhos inscritos no primeiro festival. As scolas cadastradas para as oficinas foram:
| 1. Escola Augusto Assunção | 2. Escola Jacó Broad |
| 3. Escola Campos Barreto | 4. Escola Bruno Chaves |
| 5. Escola Brum de Azeredo | 6. Escola Pelotense |
| 7. Escola Afonso Vizeu | 8. Escola Ferreira Viana |
| 9. Escola Cecília Meireles | 10. Escola Independência |
Foram realizados 21 vídeos nas oficinas:
| Escolas | Curtas |
| Escola Augusto Assunção | A Caverna do Medo |
| Escola Campos Barreto | Amizade ou Amor? |
| Escola Brum de Azeredo | Love Sucks |
| Escola Afonso Vizeu | A Cuidado com o que você desejaMatando Aula |
| Escola Cecília Meireles | O PreferidoFunério |
| Escola Jacó Broad | O Escritor MisteriosoAmor doce Amor |
Escola Bruno Chaves | No Manantial300 Onças |
| Escola Pelotense | A CartomanteA Carteira |
Escola Ferreira Viana | Era uma vez….A NovataO artistaO Preço da Droga |
Escola Independência | A MissãoKauãO Livro ProibidoBV – Boca Virgem |
Os alunos foram incentivados a realizarem vídeo foto, quando o vídeo é feito por fotos, até em função deles utilizarem seus próprios aparelhos celulares da época. A vantagem do vídeo foto é a possibilidade da narração, que ajuda na hora de realização, já que os alunos em sua maioria não são atores e existe a vergonha natural na hora de atuar, além da possibilidade de ser feito com equipamentos simples como máquinas fotográficas.
Dos vídeos realizados, 5 foram vídeo fotos e 16 live action. Os temas foram os mais variados possíveis conforme a tabela abaixo.
| Romance | Comédia | Drama | Terror |
| Amizade ou Amor? | O Preferido | O Escritor Misterioso | Love Sucks |
| Funério | A Missão | No Manantial | A Caverna do Medo |
| Amor doce Amor | Era uma vez… | 300 Onças | Matando Aula |
| BV – Boca Virgem | O Livro Proibido | A Cartomante | A Cuidado com o que você deseja |
| O Artista | A Carteira | ||
| O Preço da Droga | |||
| A Novata | |||
| Kauã |
O segundo momento seria o de exibir esse material para outras escolas, até para incentivá-las a produzirem vídeos. Assim, tivemos 40 escolas que se cadastraram para exibir o festival. Cada escola recebeu urnas com cédulas para votação, dois DVDs com os vídeos e um pequeno resumo do conteúdo de cada história com faixa etária que poderia exibir. As escolas tiveram um mês para se organizar e exibir os vídeos de forma aleatória para os alunos. Algumas escolas preferiram exibir no período da aula, outras escolas preferiram exibir no sábado para contemplar a comunidade.
O voto foi exclusivamente de estudantes, não houve júri técnico, apenas os alunos votando no vídeo que acharam interessante conforme seu desejo.
Na primeira semana de dezembro foi feita a entrega dos prêmios para os vídeos mais votados. Mais de 300 alunos lotaram o auditório de Direito da UFPel para torcer pelo seu vídeo. Os três vídeos mais votados receberam prêmio. No dia da entrega do prêmio, os cinco mais votados foram anunciados em ordem crescente e a cada vídeo anunciado os alunos do auditório gritavam de alegria e êxtase até a entrega do primeiro lugar.
4. Conclusão
Percebemos que a atividade de realização audiovisual nas escolas contribui de diversas formas, dentre elas destacamos a relação entre discente e docente que sempre se fortalece. O aluno sente mais prazer na atividade e na relação que tem com a escola como um todo. Os pais se envolvem na atividade de produzir vídeo com os alunos, pois na realização audiovisual existem etapas como produção e gravação que requer, dependendo do projeto, ajuda dos pais para conseguir o espaço para gravação, como emprestar a própria casa.
O festival é o espaço onde estes alunos se sentem valorizados pela escola e pela sociedade. Podem mostrar o que sentem, seus sonhos e medos. Depois do festival, conversando com os alunos, vimos comentários deles de como o divertido não foi apenas fazer, mas exibir, comentar e ver o material tendo “vida” nas redes sociais.
Figura 13 – Escola Municipal Ferreira Vianna
Figura 16 – Gravação do vídeo “O Preferido”
Figura 19 – Aluno Eduardo exibindo vídeo
Figura 22
Figura 25 – Gravação vídeo Afonso Vizeu
Figura 28
Figura 31
Figura 34 – Alunos recebendo prêmio
Figura 14 – Escola Municipal Cecília Meireles
Figura 17 – Professor Josias debatendo com os alunos
Figura 20 – Roteiro
Figura 23
Figura 26 – Gravação Vídeo
Figura 29
Figura 32
Figura 35 – Festa no final do Festival
Figura 15 – Oficina de roteiro
Figura 18 – Bolsista Eduardo em uma oficina
Figura 21
Figura 24 – Gravação Vídeo Escola Afonso Vizeu
Figura 27
Figura 30 – Banda tocando na entrega dos prêmios
Figura 33
Figura 36 – Professor Josias Oficina de Roteiro
Importante ressaltar a importância da anuência do poder público na produção de vídeo estudantil, e que ao mesmo tempo devemos pensar ações diferenciadas, pois em Pelotas, com a mudança política, o novo prefeito apoiou o projeto, mas não quis assumir a organização do mesmo. Assim, o festival existiu até a sua quinta edição, mas quando a UFPel entregou o festival para a prefeitura, infelizmente o mesmo não teve continuidade. O papel da universidade é apresentar academicamente a importância do projeto e como o mesmo contribui no processo educacional. O poder público é um agente importante para que o festival seja realizado não apenas por um professor e seu grupo, mas ser uma política do município e mesmo do estado. Enquanto isso for uma utopia, o que vemos de realidade é que os festivais de vídeo estudantis são realizados em sua maioria por professores que acreditam nesta ação como um processo educacional. E quando estes professores não realizarem mais o festival? O que irá ocorrer? Vai morrer o festival? Como podemos valorizar o festival de vídeo estudantil como uma política pública entre a secretaria de educação e a secretaria de cultura?
5. Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987.