Visualidade e sentido surdos
1. Introdução
Arte-educação é epistemologia da arte” (BARBOSA, 2005. p.7). Com esta afirmação Ana Mae conclui o primeiro capítulo em seu livro A Imagem no ensino da arte em que justifica a responsabilidade na investigação do ensino e da aprendizagem da arte em todos os espaços formais e informais de prática e ensino. Ela fundamenta sua Abordagem Triangular: no conhecer a história da arte, o fazer artístico, e a apreciação da obra de arte. Não propõe um método, mas uma linha de processo de trabalho para o professor. E um ponto chave, além dos três eixos, é a contextualização. Diante da multiculturalidade e diversidade a abordagem admite alterações, métodos e adequações. É na contextualização que damos foco à leitura crítica de práticas sociais, discursos excludentes circundantes, onde estão as reproduções simbólicas de relações desiguais de ação e poder entre os atores principais desta narrativa histórica. Hoje, aqui e agora, neste lugar: território fronteira em que tudo é índice, ícone, e símbolo. Em contato com a comunidade surda percebemos a importância do audiovisual enquanto processo de construção narrativa.
2. A palo seco
O ano de 2020 foi o ano do centenário de João Cabral de Melo Neto e Clarisse Lispector. Um filme de animação em preto e branco seria apresentado em partes menores com o poema Vida e Morte Severina, acompanhada de poesia surda sobre o vaqueiro no sertão agreste e Clarisse seria ilustrada pelas turmas na conclusão do ano. Mas os planos de aulas ficaram silenciados na pandemia.
As aulas começaram em fevereiro, dias antes do Carnaval carioca, evento que marca a formação do povo brasileiro e de sua cultura de arte e resistência. O olhar para si foi proposto e começamos com a auto descrição, depois o nome, e o sinal. Observamos nossos rostos, nossas mãos e construímos nossas máscaras. A autoetnografia artístico pedagógica seria apresentada como experiência didática na arte, enquanto pesquisa ação. Foi proposto o Portfólio e a autoavaliação aos alunos. Durante as aulas presenciais, estas foram ‘desconectadas’ e advertiram que não seria permitido o uso dos celulares pelos alunos em sala de aula.
Ora, ao participar do concurso para professor substituto, como ouvinte, o objetivo principal era aprender observando o trabalho da equipe que atua com crianças e jovens surdos, e principalmente a aprendizagem formal em Libras. Durante todo o mês de fevereiro e início de março este curso não foi oferecido, quando começou em seu formato online apresentou problemas cognitivos que merecem uma avaliação à parte. Se fez necessário a atualização em temas pertinentes à identidade surda. Assim, foi preparado um plano educativo que pudesse sondar o universo imagético e lúdico deste grupo. Didaticamente trabalhar com crianças em fase de alfabetização é facilitado pela condição de não domínio de línguas por parte do professor e dos alunos. Dado o perfil adotado com abordagem bilíngue seria comum a interação com intérpretes nos mais diversos espaços do ambiente escolar, bibliotecas, laboratórios, e natural o convívio com as duas línguas pátrias. Era esperado uma base pedagógica socioconstrutivista dada a força identitária de grupo e a integração como motivadora da fluência linguística. Ainda que com dificuldades próprias de um novo ano letivo, com o fornecimento de água impoluta na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a interação entre os alunos e os professores novos e intérpretes seguia a contento.
Em sala apresentamos a arte enquanto conhecimento, que aliado à Neurociência propõe em sua experienciação a construção de uma Subjetividade. A arte em seu espaço lúdico deve oferecer acesso às variadas linguagens sensíveis para suporte. A hecceidade mora neste território poético. O processo de reconhecer sua voz interna e criadora dá domínio e autonomia no arriscado exercício cotidiano da leitura de mensagens, avalanches de imagens, e discursos muitas vezes estereotipados, que visam cercear, rotular, mais que libertar ou empoderar. A fruição artística estimula os processos socioemocionais e neurocognitivos que despertam a metacognição. Consciência de si e autogestão da aprendizagem. São atividades que driblam a tendência da maioria de crianças e jovens à cópia e reprodução de padrões imagéticos. Padrões vinculados à sociedade de consumo, os mesmos que oprimem o processo de ensino e aprendizagem, forçando sequências, configurando modelos e tempo de respostas.
Não foram apresentadas obras de artes antes dos resultados dos alunos. Devemos evitar a comparação instintiva e irracional que temos diante de trabalhos semelhantes realizados por outros, ou trazer critérios externos de avaliação, e principalmente não reproduzir tendências homogeneizadoras nesta fase inicial. O material principal são os elementos visuais e conceituais das artes, o ponto, a linha e as formas. As bases teóricas são a GESTALT, KANDINSKY, e ARNHEIM. Foi utilizado pedaços de papéis coloridos, cartolinas, tesouras, purpurinas, fios de lã, colas e guache que serviram perfeitamente. Como a pedagogia construtivista requer, foi apresentado a proposta de trabalho, explicado o que seria o portfólio e a autoavaliação ao final dos semestres. E os projetos coletivos ‘mão na massa’ para soluções de problemas identificados entre eles. A maioria compreendeu e concordou com a novidade. Quanto ao momento ‘mão na massa’ a primeira atividade foi criar mensagens visuais para evitar a COVID 19.
Fazer uma experiência com algo significa que algo nos acontece, nos alcança; que se apodera de nós, que nos tomba e nos transforma. Quando falamos em “fazer” uma experiência, isso não significa precisamente que nós a façamos acontecer, “fazer” significa aqui: sofrer, padecer, tomar o que nos alcança receptivamente, aceitar, à medida que nos submetemos a algo. Fazer uma experiência quer dizer, portanto, deixar-nos abordar em nós próprios pelo que nos interpela, entrando e submetendo-nos a isso. Podemos ser assim transformados por tais experiências, de um dia para o outro ou no transcurso do tempo. (HEIDEGGER, 1987, p. 143)
3. Mudança temática e o audiovisual
Na última aula presencial, um grupo de três pré-adolescentes que causavam dissabor a outros alunos e às intérpretes com padrões socioemocionais de pouca interação e empatia, extrapolaram todos os limites. Forçaram uma situação com argumentos surpreendentes ao lhes ser oferecido espaço e tempo para justificarem as atitudes. O diretor do setor foi convidado a presenciar e tomar ciência dos fatos. Mesmo diante da autoridade, o comportamento das três crianças se manteve em escárnio, abuso, e preconceitos variados. Toda justificativa era de que assim teriam aprendido na convivência com seus familiares, com aval de uma comunidade surda. O diretor respondeu ‘à altura’ aquele discurso eivado de estigma. Sugeriu que as crianças fossem ‘perdoadas’ após suas colocações. Com o objetivo de educar e transformar os dispensei das aulas de artes por uma semana para que livres da presença e do incômodo de alunos e professores analfabetos em libras, portadores de problemas físicos e cognitivos, do vocabulário, a cor e a roupa da intérprete, de ouvintes conversando entre si, pudessem observar a escola neste período e repensarem seus atos. Não previmos que uma pandemia nos dispensaria a todos do convívio escolar. Ao mesmo tempo, a própria instituição viveria sua primeira gestão surda, portanto, também uma nova experiência.
As questões apresentadas por estes alunos especificamente apontaram a urgência de uma investigação para além da visualidade, mas na construção desses sentidos. A relevância do uso do audiovisual em sala de aula no processo de ensino aprendizagem pode servir como desbloqueador de interação e de desconstrução de valores anti sociais e anti democráticos fundamentados em puro estigma. Não foi observado em outras crianças no espaço escolar comportamento e discurso semelhantes. O contexto da narrativa destas três crianças fez fortes referências aos temas: bilinguismo, capacitismo e racismo.
4. Bilinguismo
Os avanços neurocientíficos comprovam que a maioria das espécies vivas utilizam 80% da visualidade para se comunicar com o ambiente e com seus grupos. Arnheim cita em seu livro Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora o trabalho de pesquisa de um psicólogo de crianças Arnold Gesell que afirmou na década de 60 a supremacia da visão sobre os demais sentidos, que os olhos são os primeiros órgãos a se formarem durante o crescimento do feto humano, e que enquanto o feto se desenvolve, os olhos se movimentam sincronizados como um único órgão. O psicólogo chamava a atenção para o fato de que enquanto os recém-nascidos ainda se põem com as mãozinhas fechadas e encolhidas próximo ao corpo, seus olhos já buscam descobertas. Estudos afirmam que algumas espécies como corujas e baleias utilizam mapas mentais que aprimoram seus deslocamentos no espaço e a busca por alimentos. E outra recente descoberta evoca a reduzida capacidade da visão humana equivalente a uma máquina digital de 7 megapixels, o que nos faz limitados pela nossa visão; mas que apreendemos imagens próximas a resolução de uma máquina digital de 35 megapixels, porque o cérebro amplifica a visão e completa os ‘pixels’ faltantes numa construção conceitual e aprimorada da informação captada. Portanto, o que existe no ambiente externo são informações e dados que serão processados pelo cérebro. Com estas informações vamos nos conduzir no ambiente, seja individualmente ou em grupo. A todos estes estímulos, sua leitura e capacidade de emitir mensagens, chamamos comunicação. As novas teorias da imagem se complementam. Recebem relevância por focarem na recepção da mensagem visual e na construção de sentido diante da imagem, e alertam para os cuidados diante da semiótica social. É bom lembrar que a Bauhaus em toda a sua verve criativa e crítica existiu na Alemanha antes da hipnose visual comandada pela propaganda nazista. Jornais e revistas internacionais enviaram correspondentes para escreverem matérias retratando o líder do Terceiro Reich em seu aspecto trivial ao mesmo tempo que ‘invisíveis’ suas vítimas queimavam em fornalhas. A consciência dos caminhos que nossos olhos perfazem quando constroem sentidos diante de imagens é de fundamental importância.
Há um mito discursivo de que é impossível para um ouvinte aprender linguagens de sinais, ou ainda se aprender não conseguirá a fluência necessária para se comunicar com os surdos, esquecem que surdos oralizados são capazes de ler os lábios e vocalizarem em resposta estabelecendo plena comunicação. Como podemos predeterminar o que o cérebro de um ouvinte pode alcançar da leitura visual de uma pessoa sinalizante, quando o cerne da questão é a comunicação? Um outro ponto que as crianças abordaram foi a inutilidade da aprendizagem formal com língua de sinais ou português para crianças com deficiências cognitivas, motoras, e outras, apontando que não seriam capazes de aprender. Outro mito.
A neurociência comprovou que o cérebro possui neuroplasticidade durante toda a vida de um ser vivo. Esta capacidade no ser humano é tal que substitui cognitivamente partes do cérebro perdidas ou retiradas em cirurgias. Tudo depende de exercícios, de atividades neurocognitivas e psicomotoras. Estes mitos relativos ao domínio e fluência de duas línguas nativas estão misturados ao tema do capacitismo e privilégios. O equívoco central do bilinguismo é considerar a segunda língua estrangeira. As duas línguas são nativas, e as crianças surdas estão em contato com a segunda língua desde que nascem. A facilidade na aprendizagem da segunda língua escrita vai depender da prévia alfabetização familiar, o mesmo para a fluência na língua de sinais, a fluência será maior para os que convivem em ambiente alfabetizado na língua de sinais.
A Teoria cognitiva da aprendizagem multimídia (R. MAYER, 2001) perfaz três princípios da ciência cognitiva da aprendizagem:
O sistema humano de processamento de informação inclui dois canais duplos para o processamento visual/pictórico e auditivo/verbal
Cada um dos canais tem uma capacidade de processamento limitada.
A aprendizagem ativa implica a execução de um conjunto coordenado de processos cognitivos durante essa mesma aprendizagem
O material audiovisual ou multimídia ao trazer as mensagens educacionais ou instrucionais para o modo como a mente humana funciona em seus processos cognitivos, proporciona uma aprendizagem significativa. O audiovisual deixa de ser entretenimento ou ilustração, ou informativo, para assumir o papel de Objeto de Aprendizagem. A teoria em seu primeiro princípio considera os dois canais duplos visão e audição. No caso dos surdos, surdos cegos e cegos poderíamos considerar o processamento mnemônico gestual. A escrita gestual e o vocabulário construído são resultado de um processo neuroanatomofisiológico da memória. O repertório de movimentos da dança e de esportes advém desses processos mentais envolvendo a memória. A educação de surdos não deve prescindir da aprendizagem ativa, mesmo com o uso do audiovisual.
Um dos três pressupostos da teoria ressalta que no processamento ativo “os seres humanos participam na aprendizagem, prestando atenção a informações relevantes, organizando a informação recebida e selecionada em representações mentais coerentes e integrando as representações mentais com outros conhecimentos”(MAYER,2001).
5. Capacitismo
Dentre as inúmeras formas de discriminação e preconceito está o capacitismo. Ele é uma condição opressora direcionada àqueles que tenham que viver com alguma limitação, deficiência ou disfunção físico-motora, visual, auditiva, intelectual, de aprendizagem, condições do espectro autista, síndromes, etc.. As outras pessoas são consideradas normais. É um discurso opressor que se estende aos mais diversos preconceitos, está na descapacitação da mulher pelo machismo, descapacitação do negro pelo racismo, ou seja, visa desautorizar, tirar a autonomia, o lugar de fala, ou o próprio direito de falar. No Brasil o capacitismo é uma política pública de exclusão de analfabetos e alfabetos funcionais do mercado de trabalho formal ao mesmo tempo que atribui ao trabalho o motivo da evasão escolar. E são capacitados por outra política opressora a pagarem impostos embutidos em bens, serviços e mercadorias de consumo cotidiano que os não excluídos e ricos também pagam. A língua escrita como requisito dominante para o reconhecimento intelectual e ascensão social é uma forma de capacitismo. Dentro desta semiótica social de exclusão, em que a pirâmide social são pessoas sobre pessoas, indivíduos sobre indivíduos, o capacitismo criou uma escala de valores discursiva que é a ideia de ‘privilégio’. Outro mito, os grupos lutam por privilégios e retroalimentam o capacitismo. No topo da pirâmide social estariam os normais. Brancos, doutores universalizados, heteronormativos, financeiramente independentes e estáveis, plenos e padronizados na sociedade de consumo. A visibilidade e o convívio aberto são formas educativas de desconstrução destes nós identitários e bloqueadores. O audiovisual poderia ser usado para abordar a legislação vigente que criminaliza o preconceito contra pessoas com alguma dificuldade física, mental ou motora. O humano nasceu para a boa convivência e acolhimento. O estranhamento diante do desconhecido é natural. Ocupar novos espaços e conquistar maior visibilidade no entorno pode quebrar esses paradigmas do passado. A descolonização das mentes é possível e requer tempo.
6. Racismo
É algo tão violento que perceber qualquer traço, ainda que distante, desta arma vil de opressão deve ser alerta máximo para a denúncia. É crime e ponto. Educar para a consciência negra anti racista é obrigatório e se faz todos os dias. Sim, é uma doença social, psíquica e contagiosa. Suas vítimas guardam cicatrizes profundas. Em Pele negra, máscaras brancas, Frantz Fanon descreve este olhar diferenciado.
Os elementos que utilizei não me foram fornecidos pelos “resíduos de sensações e percepções de ordem, sobretudo táctil, espacial, cinestésica e visual”, mas pelo outro, o branco, que os teceu para mim através de mil detalhes, anedotas, relatos. Eu acreditava estar construindo um eu fisiológico, equilibrando o espaço, localizando as sensações, e eis que exigiam de mim um suplemento. “Olhe um preto!” Era um stimulus externo, me futucando quando eu passava. Eu esboçava um sorriso. “Olhe um preto!” É verdade, eu me divertia. “Olhe um preto!” O círculo fechava-se pouco a pouco. Eu me divertia abertamente. “Mamãe, olhe o preto, estou com medo!” Medo! Medo! E começavam a me temer. Quis gargalhar até sufocar, mas isso tornou-se impossível. Eu não aguentava [sic] mais, já sabia que existiam lendas, histórias, a história e, sobretudo, a historicidade que Jaspers havia me ensinado. Então o esquema corporal, atacado em vários pontos, desmoronou, cedendo lugar a um esquema epidérmico racial. (FANON, 2008, pp. 104-105).
Em Reading images the grammar of visual design os autores G. Krees e Van Leeuwen enumeram as categorias de visualidade das formas multimodais de construção de ‘textos’. Analisam imagens de cartazes e publicidade, de brinquedos infantis, imagens na ilustração de livros didáticos, imagens tridimensionais que posicionam o interlocutor restringindo que tenha alcance a outros ângulos, e de todos os tipos audiovisuais, digitais, e interativas. Ensaiam com o leitor as análises considerando o espaço-tempo, a distribuição dos elementos no quadro e dos elementos entre si, a composição, enquadramento, foco, distanciamento, a posição da face em relação ao espectador. Mostram como inúmeras sensações alteram as imagens conferindo-lhes veracidade ou o contrário, ora pela alteração da saturação ou matiz, da transparência, ângulo, e as reações provocadas no espectador. Demonstra como uma imagem na ilustração de um texto dialoga com sua estrutura e induz a um entendimento, que muitas vezes é direcionado para ser equivocado. E aponta como podem ser perigosas estas relações induzidas quando voltadas às multidões. Ampliar os espaços e momentos de convivência é um modo afirmativo para as mudanças de atitudes. E há que se construir esta célula de orgulho do povo negro, indígena, caboclo e mestiço no centro de toda instituição pública de ensino brasileiro. Se a Arte-educação é epistemologia da arte, como nos aponta nossa precursora Ana Mae Barbosa, com que compromisso podemos concluir esta experiência no INES, Embaixada da Comunidade Surda?
Primeiro localizar as questões que estes jovens trouxeram na Teoria da Interseccionalidade. Os moldes e padrões de comportamento que cristalizam estes paradigmas opressores se dão pelas representações sociais. São repetidos e repassados de forma inconsciente. A visualidade não dá conta de transmitir estímulos socioemocionais que transmitam de forma completa associações éticas, sentimentos de empatia, de afeto etc. em um vínculo permanente com um dado imagético. Os vínculos socioafetivos correspondem ao imagético por experiência ativa, hoje conhecida por experienciação. Este processo cognitivo socioemocional vincula sentimentos satisfatórios aos elementos imagéticos conceituais de forma duradoura. No entanto, a facilidade é muito maior em associar conceitos e valores abstratos aos signos imagéticos. Daí a importância de prestarmos atenção nos discursos e ‘falas’ que tomamos como verdades e no que reproduzimos. Mais importante, ainda, vincular o processo de ensino aprendizagem à aproximação do humano ao humano, e do humano à natureza.
7. Conclusão
O INES organizou virtualmente o COINES2020: Potências surdas: Comunidades, língua e cultura. Uniu o XVIII Congresso Internacional do INES e XXV Seminário Nacional em Educação de Surdos. A Instituição veio com muito orgulho e alegria apresentar suas equipes e setores administrativos, docentes, discentes e colaboradores. Através de lives, pelo Canal YouTube, interagiam recebendo perguntas em libras e português pelo Telegram com link disponível. O evento aconteceu nas tardes de 8, 9 e 10 de dezembro e comemorou sua primeira gestão surda nestes 163 anos de existência da instituição desde a criação pelo Imperador D. Pedro II. Comemoraram conquistas legislativas e reiteraram o papel da instituição na representação da comunidade surda no Rio de Janeiro. Apresentaram os departamentos e equipes chefiadas e coordenadas por surdos. Ressaltaram o sucesso do Ensino Superior e EAD, e novos departamentos criados sendo um deles interdisciplinar para pesquisas de materiais didáticos.
O domínio do audiovisual e todo o campo de influência e representação social ficou a cargo da Mesa 2 do dia 8 de dezembro às 14 horas em que a representação social, o empoderamento e a potência surda se revelam fundamentais para a ocupação de novos espaços. Os convidados são influenciadores na comunidade surda pelas redes sociais, YouTube e Instagram principalmente. Seus perfis visam contribuir para o melhor posicionamento da comunidade surda no mundo virtual. Um deles, Beto Castejon, videomaker aborda em seu canal conteúdo educativo de uma forma inovadora que motiva os surdos aos estudos. A outra feliz surpresa foi a Mesa 7, em 10 de dezembro às 16 horas, com João Gabriel Ferreira, na conclusão do doutorado colocou o nome de seu trabalho final de Cachorro Surdo. Em janeiro deste ano adotou um cão que fora abandonado por ser surdo e esta notícia meio que viralizou nas redes sociais1. Foi o João Gabriel que trouxe o debate da interseccionalidade que atravessa os surdos em diversos momentos e aspectos. Abordou o capacitismo e o sistema de privilégios.
O INES como uma Embaixada da Comunidade Surda em seus 163 anos realizou avanços únicos no país. Possuem uma TV INES e oferecem o aplicativo para acesso pelo celular. Esta TV conta com jornal de notícias, curso de Libras com conteúdos contextualizados e uma rica programação infantil. Mas há o que aprimorar e a COVID 19 mostrou isto. O material audiovisual precisa se adequar às normas vigentes de acessibilidade. Para maior aproveitamento dos espaços e estímulos neurocognitivos de aprendizagem as instalações devem se adaptar. Os espaços de ensino apresentam distratores que impedem um maior desenvolvimento de crianças e jovens com espectro autista. Seria excelente a adequação ao Design Universal nos ambientes presenciais e objetos educacionais.
O Design Universal é definido pela ONU como: “concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender simultaneamente pessoas com diferentes características […] constituindo-se nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade” (BRASIL b, Cap. III, Art. 8º. IV)2. Na área educacional é uma abordagem que obedece primariamente três princípios: 1 – Múltiplos meios de representação para permitir o acesso à informação e ao conhecimento; 2 – Múltiplos meios de ação e expressão para que o estudante possa demonstrar o seu conhecimento; e 3 – Múltiplos meios para aproximar os interesses dos alunos, ofertarem desafios apropriados e ampliar a motivação. (CAST, 2011).
Educação é tecnologia de transmissão, recepção e produção de conhecimento. Desta tecnologia depende o desenvolvimento civilizatório das sociedades. O audiovisual é ferramenta de grande potência neste processo.
8. Referências bibliográficas
ARNHEIM, R. Arte e Percepção Visual: Uma psicologia da visão criadora. Nova Versão. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1989.
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 2005.
FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Editora Ubu, 2010.
HEIDEGGER, M. La esencia del habla. In: De camino al habla. Barcelona: Edicionaes del Serbal, 1987..
KRESS, G. e LEEUWEN, T. Reading images: The grammar of visual design. New York: Routledge, 2006.
MAYER, R. E. Multimedia Learning. Cambridge University Press, 2001.
CENTER FOR APPLIED SPECIAL TECHNOLOGY [CAST]. (2011). Universal Design for learning guidelines version 2.0. Wakefield, MA: Author. [ Links ]